O Cante
O Cante Alentejano é um género de canto polifónico tradicional em duas partes, não acompanhado por instrumentos. Reflete a incorporação de um vasto repertório de poesia tradicional (modas) em melodias existentes ou recém-criadas (estilos). Os grupos corais masculinos são predominantes, mas há um número crescente de grupos femininos, mistos e infantis. Compostas por até 30 membros, as vozes de cada grupo coral estão organizadas em três faixas: ponto, alto e baixos (coro).
O ponto, na faixa inferior, começa o canto, seguido do alto, uma voz na faixa mais elevada que duplica a melodia uma terceira ou uma décima acima do ponto, muitas vezes ornamentando-a. A seguir ao alto vem uma parte a solo ou, entrando a partir do ponto, o grupo coral completo canta os restantes versos da moda em terceiras paralelas. O alto é a voz guia que se sobrepõe ao grupo. Os cantadores mantêm-se numa grande proximidade física e envolvem-se profundamente numa unidade de vozes emocionalmente intensa. O Cante caracteriza-se pelas suas melodias, letras e estilo vocal.
A documentação existente, que remonta a mais de 100 anos, atesta a estabilidade das suas características melódicas. Ao mesmo tempo, criaram-se novas letras e melodias que refletem as mudanças do contexto cultural e social, mantendo os temas tradicionais referentes à vida no mundo rural, à natureza, ao amor, à maternidade e à religião. O vocabulário regional e a pronúncia local também são ingredientes essenciais para a interpretação do cante. Esta manifestação é reconhecida dentro e fora da região como o principal indicador da identidade do Alentejo.
O Cante é um aspeto fundamental da vida social nas comunidades alentejanas. Permeia as reuniões sociais nos espaços tanto públicos como privados, incluindo casas, parques, ruas, tabernas, festas e outros eventos rituais.
Para os seus praticantes e aficionados, o cante encarna um intenso sentimento de identidade e pertença à sua região de origem.
Em suma, o Cante habilita os homens e as mulheres a consolidar as suas comunidades, expressar as suas emoções e resistir ao isolamento e ao esquecimento quando se trata dos portadores das tradições mais velhos.
O Cante Alentejano é, desde 27 de Novembro de 2014, património da humanidade, inscrito na Lista representativa do património cultural imaterial reconhecido pela UNESCO
Importa salientar que este dossier teve como promotor a Câmara Municipal de Serpa, e que a entidade responsável foi a Casa do Cante, reconhecendo no movimento associativo papel na implementação do plano de salvaguarda.
in “A Tradição” Nova Série – revista de etnologia – Dossier UNESCO do Cante Alentejano. Número 0. Novembro de 2015.
Consulte a Revista Etnográfica “A Tradição”
O Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias”
O Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” foi criado em 1968 por iniciativa do Padre Gaudêncio e do senhor Barão Cachola, com o objetivo de interpretar um Cante da Terra, e das gargantas de homens nobres revelar polifonias melodiosas que encantam quem as ouve.
A opção de envergar os trajes das atividades agrícolas acompanhados por instrumentos de trabalho acrescentou-lhe o colorido dos campos, afirmando a ligação do Cante à paisagem rural, recriando o ambiente das atividades agrícolas.
O rigor e qualidade das suas interpretações, granjeou-lhe o respeito dos outros grupos e a atenção do meio musical e dos artistas que tem convidado o Grupo Coral e Etnográfico “os Camponeses de Pias” a participar em diversos projetos musicais. No seu portefólio encontramos participações com Vitorino Salomé, Lua Extravagante e Janita Salomé no álbum Vozes do Sul, vencedor do prémio “José Afonso”. No Pavilhão Atlântico em Lisboa acompanharam Caetano Veloso, Maria Bethânia assim como Rio Grande, Ala dos Namorados e Paulo Ribeiro. São várias as deslocações ao estrangeiro (Hanôver, Barcelona Estrasburgo), para apresentar a arte do seu Cante à Moda das Pias.
Neste caminho as vozes do Rancho de camponeses mantém a mesma dolência e intensidade das memórias vividas na Aldeia de Pias, das atividade artesanais e do esforço braçal e outros labores que deram lugar a uma nova arquitetura social de paisagem transformada. E com as cores do Cante continuam a participar nas cartografias do futuro onde a identidade de origem não se esquece.
Grupo Coral Feminino “As Ceifeiras de Pias”
Em 2 de Agosto de 2009 foi quando que este grupo de mulheres se apresentou em público pela primeira vez.
Nos seus estatutos consta como objecto social “a divulgação do cante tradicional alentejano, seus trajes e costumes” e esta tem sido a linha orientadora do trabalho deste grupo. Durante estes anos, têm sido muitas as actuações em palco, desfiles, comemorações, escolas, lares, programas de rádio e de televisão… enfim, onde tem sido solicitada a sua presença.
O Grupo Coral Feminino “As Ceifeiras de Pias” lançou o seu primeiro cd no dia 26 de Novembro de 2016, durante as comemorações do II Aniversário da inscrição pela UNESCO do Cante Alentejano na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial (Cante Fest’2016). O cd contém o registo de dez modas e de dois cânticos e é acompanhado de um pequeno livro, onde é dado a conhecer um pouco da história do grupo, quem são as ceifeiras cantadeiras e as letras das modas e dos cânticos (em português e inglês).
Têm mantido os ensaios por norma duas vezes por semana e têm procurado manter-se fiéis às origens do cante, tal como lhes foi ensinado pelos seus antepassados. Manter as tradições vivas na memória colectiva é um dos objectivos deste Grupo.
Esta é a sua maneira de estar, com respeito pelo cante alentejano, transmitindo às novas gerações esta maneira tão única de cantar. É com muito orgulho que se apresentam como o Grupo Coral Feminino “As Ceifeiras de Pias”!